Capaz o suficiente
*
Presa em um doloroso feitiço
Não posso recusar
Presa em um doloroso feitiço
Não posso aparentar chorar
Presa a um doloroso feitiço
Não posso lamentar
Presa a um doloroso feitiço
Não posso soluçar
...não posso fraquejar
...não posso me atenuar
Anseio por um coração
E tudo que recebo é ingratidão
Aspiro boa vontade
E tudo que recebo é brutalidade
Desejo serenidade
E tudo o que recebo é abalo
Espero por cura
E tudo que recebo é pancada
Tudo que consigo
É uma horrenda mistura de sangue e lágrimas
Sangue meu... Lágrima minha
Lástima infinita
Mas não posso pronunciar,
Nada devo compartilhar
Não deveria ter permitido
Um apego tão indevido
Um vício quase corrompido
De tão apático, passivo
Não acordo do sonho,
Não percebo o utópico,
Não esqueço a fantasia,
Não perco a ilusão,
Não submergi perante a quimera
Mas não escapei da alucinação
E já não sinto,
Já não vejo,
Já não ouço,
Já não respiro...
Perceba a doce decadência
Para a qual me tomar é incumbência
Capaz o suficiente...
Será mesmo...?
Mas não posso pronunciar,
Nada devo compartilhar
Estou completamente perdida,
Completamente isolada...
Mas já nem ligo,
Já não importa...
*
Mas não posso pronunciar,
Nada devo compartilhar
Não devia ter me apegado...
Me ligado tanto a todos... A tudo...
Não acordo do sonho,
Não percebo o utópico,
Não esqueço a fantasia,
Não perco a ilusão,
Não submergi perante a quimera
Mas não escapei da alucinação
E já não sinto,
Já não vejo,
Já não ouço,
Já não respiro...
Inacreditável refletir
Que já não me posso tocar
Inconcebível ponderar
Que não há capacidade de me atingir
Capaz o suficiente...
Será mesmo...?
Faz tanto tempo...
É tão distante...
E me sinto tão vazia...
Tão sozinha...
Aguardo a chuva cair
E que venha sobre mim
Despejando, despertando
O real em mim
Despejando e despertando
O bom, enfim
Não devo me apegar
A tão boas coisas
Será mesmo...?
Capaz o suficiente
Para tudo o que tenho de fazer, ser...?
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