sábado, 18 de julho de 2009

Olhos Fechados


Olhos Fechados

*

Com os olhos fechados

Na vã esperança de te encontrar.

Posso contigo não estar,

Mas mantenho o sonho.

*

Com os olhos fechados

Na vã esperança de te encontrar.

Vago pelo mundo

Buscando em que(m) acreditar.

*

Com os olhos fechados

Na vã tentativa de me privar.

Entretanto a negrura alheia a mim foi maior

E afundei no demasiado torpor.

*

Com os olhos fechados

Na vã tentativa de me privar.

Submergi perante a quimera da alucinação

Causada pela impetuosa letargia.

*

Com os olhos fechados

Aprisiono a ti dentro de mim

Para sempre te ter por perto

Mesmo com a distância.

*

Com os olhos fechados

Aprisiono a ti dentro de mim

Para que aonde quer que eu vá

Tenha a ti no olhar.

*

Com os olhos fechados

Já não percebo o que é ilusão.

Acabo por inverter a percepção

Tendo por portas, janelas.

*

Com os olhos fechados

Já não percebo o que é ilusão.

Tendo tudo quebrado e perdido,

Tendo o nada ileso e presente em mim.

*

Com os olhos fechados

Não consigo ver a luz.

Resigno-me apenas a esperar

Pelo crepúsculo, solidão, falta de ar...

*

Com os olhos fechados

Não consigo ver a luz.

Sinto apenas ausência

De sons, de paz e de vida a carência.

*

Com os olhos fechados

Percebo-me só agora

Sem rumo vagando,

Sem caminho, sem sonho...

*

Com os olhos fechados

Percebo-me só agora

Tendo somente a negrura interna

Do ostentoso e mirabolante caos.

*

Com os olhos fechados

Não acho a saída.

Perdida no gélido do desamor,

Do sem sentimento.

*

Com os olhos fechados

Não acho a saída.

Sob vivendo de poucos anseios

E de total lástima.

*

Com os olhos fechados

Perco os resquícios de sentidos.

Já não via e agora

Não ouço, não falo, não sinto, não penso.

*

Com os olhos fechados

Perco os resquícios de sentimentos.

Paralisada pelo medo

Já não atento, me anulo.

*

Com os olhos fechados

Temo.

Pois meus fantasmas lucram comigo

E só perduram mais o horrendo silêncio.

*

Com os olhos fechados

Temo.

Pois não posso me apegar

Já que nada devo compartilhar.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Vida Longa!

Cada um com os seus

Encruzilhada

Cantílena da Chuva

Tempo Escorrido

Abraço

Outono

Interação

O Amor e a Idade

Boca de Siri!

Sobre as Coisas Impossíveis

A Força está com Você

Indecisão

Deixa eu brincar de ser feliz?



Intuição

O Nascimento da Invenção

Caminho para lugar nenhum

No caminho para lugar nenhum temos tempo para parar e ver tudo o que nos apetece.
Sem esforço, só o sentimento!

O Jardim

Negações

Negações

"Queria (e tentou) tratá-lo de forma diferente; queria acarinhá-lo e emprestar-lhe resistência sob a forma de esperança; mas ambos sabiam que tal, de nada valia. A diferença era enorme e não só quanto a perspectivas. Quando muito, conseguiria um lento escorregar para aquele estado de conciência absolutamente insuportável, que é o da realidade que se pretende negar, aquele em que se magoa ou é magoado pelo simples facto de se estar à deriva no fio do tempo, mesmo que sem nada dizer ou fazer.
O apenas estar e estar apenas, eram momentos que ele já tinha confessado que não coincidiam, nem com o sentimento de si, nem com o que julgava poder ser o sentimento do outro.
Veio então à memória a recordação de que longe, no mesmo espaço de uma vida, já tinha experimentado algo de semelhante - um estadio de adolescência revisitado sempre que acordava.
"

Nossa Justiça

Idéia!

Larvas e Borboletas

Por cima ou por baixo...

Bom dia Sol!

Mórbida Coerência

Só um Lugar na Janela

Macaco de Imitação

Por uma Causa

Ambiente Inteiro

Mente Aberta

Sobre a Mentira II

Sobre a Mentira

Malandragem

A Morte

Impressão Digital


Impressão Digital

Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem lutos e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

António Gedeão

Metáforas

Metáforas (closing)

A princípio julguei que se tinha ido embora, depois que estava apenas escondido, finalmente julguei que eu própria o matara.
Percebi, a custo, que nunca tinha existido, que acordara de um sonho criado da imaginação fulgurante de quem acredita no que ouve.
"Tu não tens culpa que eu tenha acreditado."

Nem eu.

As Nuvens...

As Nuvens...

Passam as nuvens, as nuvens com formas de rochas, as nuvens com formas de pêssegos, e nós passamos, como as nuvens, inchados das forças vãs da dor.

- Henri Michaux -

Algo de insano




"...Havia algo de insano naqueles olhos. Olhos insanos, os olhos que passavam o dia a me vigiar, a me vigiar, Camilla, Camilla..." por Carolina Barajas

Definição

Definição

"O medo é um forte sentimento de vivência pessoalíssima, com causa psíquica interna ou provocado por uma situação externa e que, em regra, se deve a um espanto, a uma percepção de "não domínio do sofrimento que se avizinha", ou que uma determinada situação lhe poderá criar, independentemente da forma pela qual possa ser gerado.

Nisto consiste o seu substracto."

"Nenhures."

Lei de Felson

Lei de Felson

Li.
Reli.
De facto, faz algum sentido:

"Roubar ideias a uma pessoa é plágio.
Roubar a muitas é pesquisa."

Murphy.

Nuvens e tormentas


Por isso as nuvens
se zangam em trovoadas
e vociferam trovões.

É a carcaça que grita
o que o resto cala.

Luís Rodrigues


olhares!

"olha. olho por ti olhando ao exemplo de quem por todos olha desenho como olho e nao olho a criticas maldosas de quem nao tem olho para a coisa olhe para outro lado fique no seu agrado que eu tento me agradar olho para o que eh bonito ao meu passar. inocentemente desnudo as coisas do seu parecer ilumino sem querer o que por si ja nao tem luz so tento fazer jus ao que apreendo se nao gostam do que pus nao posso olhar por voces o que vejo nao posso vos fazer olhar apenas desejo que quando a minha mao passar por mim, so me resta esperar que compreendam o que no fim tentei capturar. "

por linadi. encontra- se no blog: linadi.blogs.sapo.pt

Tu eras também uma pequena folha


Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

Pablo Neruda

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Repouso



Repouso

*

Todo amor repousa

Repousa numa caixa

Selado e esquecido

Já que não ousa,

Não se queixa, a levar se deixa

Porque nunca foi ouvido...

*

Todo amor repousa numa gaveta

A 7 chaves trancada

E já há muito empoeirada

Devido a uma de suas facetas

*

Todo amor repousa numa sala escura

Onde nem a mais forte luz perdura

Onde só há amargura

Onde não há qualquer armadura

Que resista e abafe a tortura...

*

Lugar que às vezes visito

Visita quase sempre sonhada

Poucas vezes concretizada

Sempre por demais esperada

Por ser o encontro com o que cito

*

E o tempo, senhor de enganos

Levou embora meus sonhos

Roubou minhas emoções,

Comiserações...

Sem clemência furtou-me

Da ausência e omissão de dó, misericórdia, piedade...

Abundou o árduo peso da indulgência,

Sobejou da penosa penalidade

*

Relembrando-me vez por outra

Que não estás mais comigo

Que meu choro já não é ouvido

Que meu sussurro no espaço é perdido

Que meu peito já está por demais dorido

Que entre sonhos subsisto

*

De sentimentos novos e antigos

Sobrevive minha mente.

Por breves momentos, instantes

Meu (sub)consciente nada sente

Por curto tempo, período

O escuro e sombrio visito

Em busca de abrigo

À procura de repouso... Alívio...

domingo, 5 de julho de 2009

Nuvem


Nuvem
*
Negrume celeste
Testemunha e guardiã do que agüento,
Do que sinto
*
Negrume celeste
De minha petição é a única ouvinte
E conivente
*
Às vezes o tempo pára
Porém nada se altera
Nada é o que se espera
*
Às vezes o tempo pára
Mas só para mim
E apenas em mim
*
Às vezes o tempo pára
Porém de nada adianta
Pois não posso romper a tranca
*
Numa outra dimensão
A incerteza finda
E a falta de sentimento abunda
*
Numa outra dimensão
Que jaz coração
Mentir se tornou solução
*
Numa outra dimensão
Esperança se tornou um dom
Em meio a tanta perdição
*
Numa outra dimensão
Não há tempo
Não há luz
*
Chuva... Ah! São lágrimas...
Único brilho no escuro, sombrio e triste lugar
Que assemelhar-se-á a lágrimas (d)e estrelas...
Estrelas de mim sobre ti...
*
Estrelas de mim sobre ti
Porque assim como estrelas
Lagrimas estão tão distantes que não pode atingir
*
Estrelas de mim sobre ti
Porque demoras tanto a intuir
Que ao atingir já parou a muito de fluir
*
Gira mundo devagar
Como se talvez o pudesse controlar
...O pudesse alcançar
*
Mas bem sabes que sobre o nada gira
Sobre o nada agoniza
Sobre o nada expira
*
Olhos fechados para pedir
Talvez uma luz para luzir,
Um caminho para sair
*
Brilha lágrima no negrume
Porque mais um dia findou
Mais da escassa luz se apagou...
*
Brilha lágrima no negrume
Pois és já tão constante
Que se tornou coadjuvante

Eterno / Saber


Eterno / Saber

*

Não é capaz de saber

O que fiz por você:

Milhares de lágrimas derramadas,

Dor em gritos transformada;

Mantendo minha alma enganada,

Sustendo minha mente aplacada,

Mantendo-me dopada...

Sendo por ti enganada,

Sendo subjugada,

Sendo ignorada,

Sendo anulada...

Fui abandonada

E tive como resultado diversas chagas.

Que não precisavam nem de toque para doer,

Basta um olhar para que sangrem.

*

E apesar de tudo você não ouviu,

Não atentou.

Só perdurou o horrendo silêncio,

Mesmo com meus gritos de dor,

Mesmo com os desabafos pelo desamor.

*

Já não careço de ajuda!

Já me ergui tantas vezes

Que o apoio não é necessário.

É completamente dispensável!

Dispenso e desprezo por completo seu auxílio!

Já não me importa...

Não me importa!

*

Se ao menos uma vez não acordasse atormentada...

Já com sensação angustiada...

Sentindo-me derrotada...

Não sentindo o fundo do poço...

Não morrendo de novo...

*

Quanto mais eu penso

Mais afundo,

Mais me afogo,

Mais eu caio,

Mais me quebro,

Mais eu morro...

*

E já invertendo o que tenho

Tomo por portas, janelas e

Tomo verdades por mentiras

Obscurecido e confuso âmago

Já não distingue o real

Com tantos pensamentos ambíguos

Já não confio em mim,

Mais eu morro...

*

E quanto mais eu penso

Mais afundo,

Mais me afogo,

Mais eu caio

E o cair parece perpétuo...

Mais me quebro

E parece que tenho mesmo de quebrar...

Mais eu morro...

Tenho mesmo que morrer?

*

Já não me importa o seu falar,

O seu gritar,

O seu linguajar...

Podes dizer o que quiseres,

Mas não mais me quebrarás.

Já estou longe...

Já devo respirar,

Não posso continuar afundada!

*

Pareço morrer novamente...

Pareço afundar...

Me afogar...

Cair perpétuo...

Quebrar por completo...

Tragar eterno...

Eterno...

Perpétuo Sonho


Perpétuo sonho

*

Descanse a cabeça em meu colo

Esqueça-se de tudo o que é lástima

Aceite o meu consolo

*

Descanse a cabeça em meu colo

E durma

Permita-me abrandar-lhe o dolo

*

Comece um novo sonho

Já que o antigo se tornou martírio

Aceite o que lhe proponho

*

Comece um novo sonho

Afaste-se do aspecto do calvário

Seguindo rumo ao frondoso carvalho

*

Já é chegado o crepúsculo

Momento terminal

Onde bem-estar é minúsculo

*

Já é chegado o crepúsculo

De hipnose sepulcral

Fazendo de meus olhos um simples básculo

*

Seduzida por uma canção de ninar

Entoada desde os confins de minha alma

Até das estrelas o habitat

*

Seduzida por uma canção de ninar

Sou impelida e fascinada por persegui-la como a um fantasma

Do qual não há como escapar

*

Já no habitat de estrelas

Contemplo anjos

Como se sempre os pudesse ver por entre minhas lamelas

*

Já no habitar de estrelas

Aprecio o sussurro entoado

Porquanto tenho como portas, janelas

*

E o que importa?

Sabes?

Ouça!

*

Tendo luz como guia

E lucidez pertencida de estrelas

Gentilmente me encaminho...

*

Tendo luz como guia

Claridade lúgubre já surgida

Atraindo e ostentando mais um alvorecer

*

Perdida no âmago

Não consigo ouvir... Não sou capaz de sair

E mais de mim mesma apago

*

Perdida no âmago

Após todos os meus fantasmas terem lucrado comigo

Já não há mais estômago

*

Depois de todo o isolamento

Proporcionado pela minha própria mente

Escapei do utópico tormento

*

Depois de todo o isolamento

O real se mostra pela tardia abertura do básculo

Findando o noturno padecimento

*

Mas dando lugar a um novo sofrimento

Representado pela expiação, mágoa, purgatório, luto, suplício e transe

Tornando tudo num perpétuo sonho

*

E o que importa?

Sabes?

Ouça!

*

Já não importa se é dia ou noite

Meus fantasmas ainda estão lucrando comigo

E já nem sei se meu básculo está aberto ou fechado

*

Já não importa se é dia ou noite

A morte de hoje sempre chega certeira

Fortalecendo mais a horrenda barreira

*

De sangue e lágrimas formada,

Consternação e tortura velada,

Pesar e dor em proporção demasiada

*

E o que importa?

Sabes?

Ouça!

*

Já não pareço sonhar,

Já não sou capaz de acordar

Perpétuo sonho a atormentar.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Pense nisso!


Pense nisso!

Quantas vezes você pensou em desistir, em deixar de lado ideais e sonhos...
Quantas vezes bateu em retirada, com o coração amargurado pela injustiça...
Quantas vezes sentiu o peso da responsabilidade, sem ter com quem dividir...
Quantas vezes sentiu solidão, mesmo tendo pessoas à volta...
Quantas vezes falou, sem ser notado...
Quantas vezes lutou por uma causa perdida...
Quantas vezes voltou para casa com a sensação de derrota...
Quantas vezes as lágrimas teimaram em cair, justamente quando precisavas parecer forte...
Quantas vezes pediu a Deus um pouco mais de força, um pouco mais de luz...
*
A resposta sempre acaba vindo, seja lá como for: um sorriso, um olhar de aprovação, um cartão, um bilhete, um gesto de gratidão, de amor...
*
E você insiste!
Insiste em prosseguir. Em acreditar mais uma vez, em transformar, em dividir, em estar, em ser...
*
E
você saber porque insiste em continuar? Porque sabe que tem uma missão a cumprir. Por essas e outras razões, tenha sempre em mente que você é capaz, senão Deus não teria lhe confiado essa missão que só você é capaz de realizar.

Ermo


Ermo
*
Despedir, apenas despedir
Ir, apenas ir
*
Não temo o sonho
Nem o dormir, dormir eterno
*
Não careço do melhor, do estupendo
Só quero sentir a altura, o vento
*
Por que recusa me guiar?
Julga não ser real?
*
Não foi concreto ao longo de tudo?
Não foi verdadeiro depois de tudo?
*
Caso eu caia e me perca...
Não mais me terás...
Onde estarei...?
*
Despedir, apenas despedir
Ir, apenas ir
*
Não sou e nunca serei redenção,
Resgate... Proteção...
*
Caso eu caia e me perca...
Sozinha e triste...
Sem luz no caminho...
*
Sem luz a conduzir,
A guiar, nortear..., induzir...
*
Decaída na doce solidão,
Preciosa decadência, sem salvação
*
Recorde de toda a solidão,
Da lúgubre escuridão,
Pois é lá onde eu estarei: no ermo.
*
Em sonho terei amor?
Sairei do torpor?
*
Meu coração de tão ferido já não bate,
Salve-me...
Refugie-me..., abrigue-me...
Para que sobreviva e me restaure dessa profunda estafa.
*
Mude a mim,
Transforme a mim...
*
Caso eu caia e me perca...
Sozinha e triste...
Sem luz no caminho...
*
Sem luz a conduzir,
A guiar, nortear..., induzir...
*
Decaída na doce solidão,
Preciosa decadência, sem salvação
*
Recorde de toda a solidão,
Da lúgubre escuridão,
Pois é lá onde eu estarei: no ermo.

Capaz o suficiente

*

Presa em um doloroso feitiço

Não posso recusar

*

Presa em um doloroso feitiço

Não posso aparentar chorar

*

Presa a um doloroso feitiço

Não posso lamentar

*

Presa a um doloroso feitiço

Não posso soluçar

*

...não posso fraquejar

...não posso me atenuar

*

Anseio por um coração

E tudo que recebo é ingratidão

*

Aspiro boa vontade

E tudo que recebo é brutalidade

*

Desejo serenidade

E tudo o que recebo é abalo

*

Espero por cura

E tudo que recebo é pancada

*

Tudo que consigo

É uma horrenda mistura de sangue e lágrimas

*

Sangue meu... Lágrima minha

Lástima infinita

*

Mas não posso pronunciar,

Nada devo compartilhar

*

Não deveria ter permitido

Um apego tão indevido

*

Um vício quase corrompido

De tão apático, passivo

*

Não acordo do sonho,

Não percebo o utópico,

*

Não esqueço a fantasia,

Não perco a ilusão,

*

Não submergi perante a quimera

Mas não escapei da alucinação

*

E já não sinto,

Já não vejo,

*

Já não ouço,

Já não respiro...

*

Perceba a doce decadência

Para a qual me tomar é incumbência

*

Capaz o suficiente...

Será mesmo...?

*

Mas não posso pronunciar,

Nada devo compartilhar

*

Estou completamente perdida,

Completamente isolada...

*

Mas já nem ligo,

Já não importa...

*

Mas não posso pronunciar,

Nada devo compartilhar

*

Não devia ter me apegado...

Me ligado tanto a todos... A tudo...

*

Não acordo do sonho,

Não percebo o utópico,

*

Não esqueço a fantasia,

Não perco a ilusão,

*

Não submergi perante a quimera

Mas não escapei da alucinação

*

E já não sinto,

Já não vejo,

*

Já não ouço,

Já não respiro...

*

Inacreditável refletir

Que já não me posso tocar

*

Inconcebível ponderar

Que não há capacidade de me atingir

*

Capaz o suficiente...

Será mesmo...?

*

Faz tanto tempo...

É tão distante...

*

E me sinto tão vazia...

Tão sozinha...

*

Aguardo a chuva cair

E que venha sobre mim

*

Despejando, despertando

O real em mim

*

Despejando e despertando

O bom, enfim

*

Não devo me apegar

A tão boas coisas

*

Capaz o suficiente...

Será mesmo...?

*

Capaz o suficiente

Para tudo o que tenho de fazer, ser...?