quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Um dia...



Um dia...

Um dia pude perdoar...
me tornei forte
mesmo sentindo aquela mágoa
mesmo com a ferida permanente acostumada a sangrar e a me sentir prejudicada
e me perguntei: como começar de novo?

Um dia eu pedi perdão
e me tornei grande
e fiquei livre, ao menos em parte, da imperfeição que só fazia estrago...

Um dia mostrei meus motivos...
fui eloquente
mas me senti ainda mais carente
antes mesmo que eu visse ou pensasse
estava sozinha... e vazia...

Um dia parei para ouvir aos outros
e me tornei mais humana
e além dos sons havia cores e sensações recompensadoras e lindas

Um dia lutei minha própria batalha...
fui brava, corajosa...
mas a rua vazia chorou,
o anjo que fui se encolheu
e o carmim de mim jorrou

Um dia lutei por causas alheias...
e fui mais gente
e pude sentir algo além do vazio: o bem! Pude sentir todo o bem...

Um dia lutei pelo que queria, por minhas vontades...
perseverei
mas tão depressa quanto veio se foi e esmoreci...
me perguntei: o que vou fazer?
não posso esquecer... e as lágrimas não secaram com o sol que fez

Um dia dividi o que tinha...
e fui rico!
e havia prazer e gratidão

Um dia recebi aplausos...
fui admirada.
e ruí com a inveja e a depreciação alheia e interna
aí, havia ausências e falta de esperanças
eram masmorras com instrumentos e apertadas trancas

Um dia fiz o bem em silêncio.
e os aplausos vieram dos anjos
e a recompensa veio do alto, veio de Deus.

Um dia usei a inteligência...
me tornei respeitada
mesmo assim não consegui evitar de pensar que estava falando sem ninguém ouvir
e que estava ouvindo o que ninguém dizia
e todas as palavras já inventadas não eram suficientes para exprimir o que senti (o) ou pensei (o)

Um dia usei o coração...
e fui amada!
e a ferida havia sido tampada, e “eu estava perfeita – não curada,
mas como se nunca tivesse havido ferida.”
Estabilizada. Inteira. Eu estava inteira.

Quando me dei conta, tudo havia mudado.
e eu estava bem -
ou quase...

Ainda não estava curada
mas podia sentir meu coração batendo no peito, o sangue numa rápida correnteza por minhas veias
de novo e meus pulmões se enchendo de ar – abrandando a isquemia

Um dia acordei como se nunca tivesse havido o buraco, a ferida, o vazio no meu peito
eu estava inteira de novo
inteira, como a muito não estava
bem, como a muito não me sentia
viva, como a muito não vivia

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