Coisas simples
Sinto falta de quando a vida era fácil
De quando tudo era simples
Sinto falta de quando as coisas eram felizes
De quando era fácil sorrir
Sinto falta de quando o amanhecer representava o renovar de
esperanças
De quando tudo era mais mágico
Sinto falta de quando sentir era uma coisa boa
De quando era prazeroso e quente e vivo
...mas agora é só um fardo que carrego...
...um de muitos...
Sinto falta de quando a vida era fácil
De quando tudo era simples
Sinto falta de tudo
De quando era alguém completo
(já agora sou só um alguém...)
Sinto falta da disposição fluindo através de mim
De quando era preciso muito para me cansar...
Sinto falta de presenças constantes
De quando todos se achegavam – sem interesses, só por
amor...
Sinto falta de quando medo não era preciso
De quando a inocência imperava...
Sinto falta das noites tranquilas e dos sonhos infantes
De quando era fácil adormecer – de quando havia a certeza do
bem dormir e do despertar
Sinto falta de ansiar pelo despertar
De quando a renovada esperança corria por mim no momento em
que raiava o dia novo
Sinto falta de quando a vida era fácil
De quando tudo era simples
Sinto falta das lágrimas de alegria...
De quando essa era a única forma de eu derramar lágrimas...
Sinto falta de ser eu mesma
De quando não era tão errante e confusa e amedrontada
Sinto falta de ser inteira
De quando tudo era mais fácil
Sinto falta de ser expressiva
De quando podia gritar ao mundo meus sentimentos,
pensamentos, sonhos...
Sinto falta da não repressão
De quando eu não precisava esconder
Sinto falta de quando a vida era fácil
De quando tudo era simples
De quando eu não era quebrada
De quando ainda havia concerto
De quando ainda havia paz
De quando ainda havia sonhos
De quando eu tinha esperanças
De quando eu era feliz
Mas agora usurpada e violada e aterrorizada e traumatizada e
irrecuperável
Sou nada
Sou perdida
Sou finda
...
Não sou mais eu.
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