segunda-feira, 22 de março de 2010

Desabafo


Desabafo


Não disseram que ela já não respirava

Não disseram que sua existência já se findava


Nuvens de chuva vêm brincar

Nuvens de chuva vêm no céu constantemente pairar


Não disseram que ela já estaria fria

Não disseram que ela já não sorriria


Nuvens de chuva permanecem a ocultar

Nuvens de chuva permanecem no lacrimejar


O sinal tocou e o entendimento atingiu

O sinal tocou e a esperança ruiu


Não disseram que ela iria

Não disseram que ela sucumbiria


Nuvens de chuva são coadjuvantes

Nuvens de chuva são a representação do constante


O sinal tocou e o permanente brincar recomeçou

O sinal tocou e o permanente brincar é tudo o que restou


E a mente mente na tentativa de fornecer ajuda

E a mente mente na tentativa de aliviar


Não disseram que ela já não respirava

Não disseram que ela já estaria fria


Nuvens de chuva que permanecem sobre mim.

Nuvens de chuva que me são um costume.


O sinal tocou e a solidão é tudo o que me restou

O sinal tocou e a solidão se faz presente mesmo em meio à multidão


E a mente mente na tentativa de preencher o vazio

E a mente mente na tentativa de aliviar o frio


Se surgisse sorriso, verdadeiro sorriso, talvez houvesse aliviar

Se surgisse sorriso e talvez aliviar, sentiria como se estivesse a lhe apunhalar


Não quero alivio nem comiseração,

Apesar de não querer permanecer no negror e na solidão do vão.



Não disseram que seria tão frio. E principalmente,

Não disseram que tudo se tornaria num ruir gradativo.



Nuvens de chuva representam os olhos

Nuvens de chuva representam os ais



O sinal tocou e quimeras e fantasmas eram única companhia.

O sinal tocou e, nesse instante, superabundou em lágrimas frias.



E a mente mente na tentativa de fornecer ainda algum parco contentamento.

E a mente mente na tentativa de aliviar o tormento.



Se surgisse sorriso talvez eu não desejasse tanto o entorpecente.

Se surgisse sorriso, verdadeiro sorriso, talvez eu não me sentisse tão doente.



Não quero alivio nem comiseração,

Apesar de não querer permanecer no negror e na solidão do vão.



Não disseram que ela traria o corroer de tanta falta

Não disseram que a solidão se faria e pareceria tão certa



Nuvens de chuva ocultam-me em sombra

Nuvens de chuva ocultam-me, ao mesmo tempo em que revelam, do sombrio que inspeciona


O sinal tocou e a tua ausência me fez suicida

O sinal tocou e eu percebi que ninguém liga.



E a mente mente na tentativa de estabelecer conversa

E a mente mente na tentativa de aplacar a alucinação tão certa


Não disseram que ela traria o corroer de tanta falta

Não disseram que ela traria o pungente doer na alma



Nuvens de chuva que choram carmim

Nuvens de chuva que choram negrume. E tudo sobre mim.


O sinal tocou e não houve despertar

O sinal tocou e ocorreu a demasia do afundar.



E a mente mente na tentativa de me livrar do prático efeito da dor.

E a mente mente na tentativa de me livrar do efeito da depressão que preenche meu interior.


Se surgisse sorriso, verídico sorriso, talvez ainda houvesse conserto.

Se surgisse sorriso, verídico sorriso, talvez eu não sentisse o meu corpo em si mesmo preso.


Negra fonte, negros sóis. Recuso-me a acreditar

Negra fonte, negros sóis. Recuso-me a aceitar.


Não quero alivio nem comiseração,

Apesar de não querer permanecer no negror e na solidão do vão.


Não tente me consertar, não estou quebrada

Não tente me consertar, estou apenas atormentada


Não disseram que mudaram as estações. Faz tanto frio, faz tanto tempo...

Não disseram que tudo seria tão diferente, que no meu mundo tudo se perderia.


Nuvens de chuva que mais condensam com o todo frio

Nuvens de chuva que mais condensam no todo sombrio

E a mente mente por que sabe que eu já não ligo.

E a mente mente por que sabe o que oculto.

Se surgisse sorriso talvez após o frio fizesse calor. Mas

Se surgisse sorriso seria máscara-esconderijo e mais o frio preencheria e aumentaria no âmago.


Negra fonte, negros sóis. Recuso-me a continuar

Negra fonte, negros sóis. Recuso-me a me entregar.


Não quero alivio nem comiseração,

Apesar de não querer permanecer no negror e na solidão do vão.


Não tente me consertar, não estou quebrada

Não tente me consertar, estou apenas estilhaçada


Não disseram que eu já não a poderia mais ver

Não disseram que isso também me faria fenecer

Nuvens de chuva ocultam os olhos de pedra sem pena de mim.

Nuvens de chuva ocultam, aos olhos alheios, os outdoors de medo que se erguem perante mim.


O sinal tocou e a concordância chegou.

O sinal tocou e a consciência me apunhalou.


E a mente mente vindo sempre com as mesmas notícias.

E a mente mente distorcendo as sensações para que não haja em mim alguma parte suicida.


Se surgisse sorriso, de abundar e contagiar...

Se surgisse sorriso, talvez eu me sentisse usurpar.

Não tente me consertar, não estou quebrada

Não tente me consertar, estou apenas esfrangalhada


Não tente me consertar, não estou quebrada

Não tente me consertar, estou apenas alucinada


Não quero alivio nem comiseração,

Apesar de não querer permanecer no negror e na solidão do vão.


Não tente me consertar, não estou quebrada

Não tente me consertar, estou apenas alienada


Não disseram que ela iria.

Não disseram que com o tempo eu concordaria.


Nuvens de chuva que choram carmim.

Nuvens de chuva que choram negrume. E tudo sobre mim.


O sinal tocou e desejei com todas as forças poder trocar de lugar contigo.

O sinal tocou e desejei com todas as forças ter esse fúnebre alívio.


E a mente mente porque sabe que mentira vive por mim.

E a mente mente porque sabe que a criança interior chora e transborda em carmim.


Se surgisse sorriso, talvez eu sentisse culpa

Se surgisse sorriso, eu me sentiria te negar.


Não quero alivio nem comiseração,

Apesar de não querer permanecer no negror e na solidão do vão.


Não disseram que sua existência já se findava

Não disseram que ela iria


Nuvens de chuva transbordantes de fel

Nuvens de chuva transbordando pelo todo cruel


O sinal tocou e agora tanto faz.

O sinal tocou e agora não vou nem desistir nem tentar...conformar.


E a mente mente na tentativa de fornecer esperança.

E a mente mente na tentativa de me fazer abrir a tranca.


Se surgisse sorriso talvez parasse de ler histórias na parede e de assisti-las no teto.

Mas sorriso não surgiu e hoje o amor partiu.


Não quero alivio nem comiseração,

Apesar de não querer permanecer no negror e na solidão do vão.


Não disseram que, quando ela fosse, eu já com nada me importaria.

Não disseram que, quando ela fosse, só me restaria essa agigantada apatia.


Nuvens de chuva escondem o sol que deveria estar lá fora. Escondem o suntuoso jardim.

Nuvens de chuva escondem o rosto inchado de mágoa.


O sinal tocou e vi que não se realizaria meu intento.

O sinal tocou e vi que não possuía mais nenhum sustento.


E a mente mente na tentativa de restabelecer o torpor.

E a mente mente porque já sabe que alegria é efemeridade em meu interior.


Se surgisse sorriso, verídico sorriso, talvez eu voltasse a acreditar que tudo era pra sempre.

Mas sorriso não surgiu e pra sempre sempre acaba.


Não disseram que ela já não sorriria

Não disseram que ela sucumbiria


Nuvens de chuva preenchem meus dias

Nuvens de chuva preenchem minhas noites


Não disseram que ela traria o pungente doer na alma

Não disseram que o isolamento é que me traria a calma


Nuvens de chuva escondem-me em bruma

Nuvens de chuva escondem-me do torpe


Não disseram que, quando ela fosse, o suicídio seria constante

Não disseram que estar viva se tornaria ainda mais torturante


Nuvens de chuva choram por mim. E mesmo que o feitiço vá,

Nuvens de chuva continuarão a chorar carmim.


Não quero alivio nem comiseração,

Apesar de não querer permanecer no negror e na solidão do vão.


Nuvens de chuva perfeitas, perfeitas.

Nuvens de chuva sussurram-me todas aquelas frases feitas.


Nuvens de chuva são o permanente. E nada vai mudar isso.

Nuvens de chuva são o permanente. E nada vai conseguir mudar o que ficou.


Nuvens de chuva são o constante. E nada vai conseguir arrancar o que se instaurou.

Nuvens de chuva são o constante. E nada vai arrancar o que superabundou.


Apesar de não querer permanecer no negror e na solidão do vão.

Não quero alivio nem comiseração.



Nenhum comentário:

Postar um comentário